terça-feira, 10 de julho de 2007

Heresias medievais II


Entre as heresias do século XII encontramos a de Pedro de Bruys, que se supõe ter morrido entre 1132 e 1133 e iniciado sua heresia entre os anos de 1112 e 1113. Nascido no Cantão de Rosans, nos Alpes, sabe-se que chegou a ser padre e que por motivo desconhecido foi expulso de sua igreja. Começou a pregar de lugar em lugar, chegando à Provença e adquirindo cada vez mais adeptos para as suas doutrinas. Mas com o passar do tempo, este tipo de pregação, condenado pela Igreja, levou-o ao cárcere e à morte.

Ao que tudo indica, dos livros da Bíblia ele se atinha aos Evangelhos, colocando em dúvida os demais livros do Novo Testamento, chegando mesmo a desconfiar da autenticidade da Epístola de São Paulo e de outros Apóstolos. Por outro lado, Pedro de Bruys entendia que a Igreja, não o conjunto de suas propriedades ou bens materiais, mas a unitate congregatorum fidelium dos que crêem nos Evangelhos, era o único e verdadeiro testemunho apostólico, desprezando todo o resto, inclusive a sua hierarquia.

Foi sob este aspecto que seus seguidores rejeitaram o batismo das crianças, pois estas não poderiam ter uma fé pessoal consciente, não tendo o batismo, portanto, nenhum valor do ponto de vista da salvação, nem tampouco como remissão dos pecados. A conseqüência desta posição é que, no seu entender, o batismo deve ser dado em uma idade mais adulta.

“O que crer e for batizado, será salvo, mas o que não crer será condenado”. Como as crianças não podem crer porque não têm idade para isso, não devem, portanto, ser batizadas.

Rejeitavão a cruz como símbolo tradicional do cristianismo. Não só negavam a cruz mas também a eucaristia e o sacrifício da missa, sob a justificativa de que o corpo e o sangue de Cristo foi dado apenas uma única vez, isto é, durante a última ceia.

A sua visão sobre o pecado original também divergia do da igreja, onde considerava no detalhe de que Adão e Eva pecaram por eles mesmos e seu pecado não se transmitira aos seus descendentes, uma vez que a responsabilidade dos atos é individual e não é justo que alguém pague pelo que não cometeu.

Encontrou o fundamento bíblico para tal concepção em Ezequiel, 18.20: “A alma que pecar, deverá morrer”, e “O filho não carregará a iniqüidade paterna”.

O batismo, nesse caso, é visto somente como uma identificação com a fé cristã.

A seu ver, esta hierarquia tinha de ser humilde e adotar a pobreza, privando-se do desejo de acumular bens materiais; não deveria adornar-se com paramentos luxuosos, tendo os bispos de abandonar a mitra, o anel e o báculo, símbolos de pompa que podiam ser deixados de lado. Mesmo a magnificência e o luxo dos edifícios das igrejas não eram necessários.


Fonte: Nachman Falbel-Heresias medievais

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