quinta-feira, 17 de julho de 2008

Deus pode ter tido esposa

Deus bíblico pode ter tido uma esposa, afirmam pesquisadores. Inscrições indicariam que Javé teria tido como companheira a deusa da fertilidade Asherah.Tese é polêmica!









Será que uma deusa pagã, atacada na Bíblia como uma das maiores inimigas do culto ao Deus verdadeiro, poderia ser, na verdade, a esposa Dele?



De forma bastante simplificada, esse é um dos principais debates que dividem os historiadores da religião do antigo Israel nos últimos tempos. Inscrições misteriosas, pequenas estatuetas de cerâmica e o próprio texto da Bíblia indicariam que a deusa em questão, conhecida como Asherah, não teria sido adorada como rival de Javé, o Deus judaico-cristão, mas sim como sua companheira.







"Na Bíblia hebraica existem mais de 40 referências a Asherah e ao seu símbolo, inclusive demonstrando a sua presença dentro do Templo de Jerusalém, o Templo de Javé", conta Ana Luisa Alves Cordeiro, mestranda em ciências da religião na Universidade Católica de Goiás.





Na reforma religiosa liderada por Josias, rei de Judá (o reino israelita do sul), por volta do ano 620 a.C., teria arrancado do Templo o símbolo da deusa e queimado.









o culto a Asherah parece ter sido mais importante fora de Jerusalém, nos chamados "lugares altos", afirma a pesquisadora. Em tais locais, o poste de madeira era substituído por árvores vivas como símbolo da deusa. "Eram santuários ao ar livre, nos topos das montanhas. Isso evidencia uma profunda ligação com a natureza", diz Cordeiro.









O culto a Asherah seria uma forma de reverenciar a fertilidade feminina e o papel da mulher como doadora ou mantenedora da vida. "E a árvore é o símbolo dessa abundância", avalia a pesquisadora.










Durante muito tempo, esse tipo de culto foi considerado uma influência religiosa estrangeira sobre o povo de Israel, conforme o que dizia a Bíblia. Mas o consenso atual é que os israelitas não tiveram uma origem separada dos cananeus, seus vizinhos pagãos. A maior parte dos habitantes de Judá e Israel (nome um tanto confuso do reino israelita do norte) parecem ter sido um grupo de origem majoritariamente cananéia que foi assumindo uma entidade cultural distinta aos poucos. E, entre os cananeus, Asherah era a esposa de El, o soberano dos deuses -- mais ou menos como Zeus, na mitologia grega, tinha sua mulher divina, a deusa Hera.






Inscrição em hebraico do ano 800 a.C. no alto pede benção de "Javé de Samaria e sua Asherah". Casal abaixo do texto, com aspecto bovino, poderia retratar o deus e sua esposa, segundo alguns especialistas (Foto: Reprodução)







Inúmeras estatuetas de cerâmica, encontradas em todo o território israelita e com idades que abrangem centenas de anos, que parecem indicar uma deusa da fertilidade, com barriga de grávida e seios protuberantes. "Essas imagens continuam sendo comuns até o século 6 a.C., quando Jerusalém é destruída e parte de seus habitantes são exilados na Babilônia"



Outras estatuetas femininas feitas por antigos israelitas: os traços maternais, como seios fartos e ventres grávidos, são enfatizados nessas imagens (Foto: Reprodução)

Muitas reformas foram realizadas pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém, elaboradas na época depois do exílio. "A comunidade dos que voltam da Babilônia se organiza em torno do Templo de Jerusalém, sob a liderança dos sacerdotes e com o apoio do Império Persa [que dominou a região depois de vencer a Babilônia]. Então, toda ameaça a esse processo de centralização do poder sacerdotal foi combatida, de forma que só acabou sobrando o culto a Javé.

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