Este afresco é, muito provavelmente, a mais antiga representação da
Samaritana. Encontra-se nas catacumbas da Via Latina, em Roma, e pode
datar-se do século IV.
Como se pode verificar, a Samaritana apresenta um ar muito jovem.
Enverga túnica um tanto curta que deixa ver ainda um pouco da canela.
Calça botins, usa brincos e tem cabelo abundante, bem penteado. É uma
figura citadina. Com a mão esquerda segura a corda atada a uma ânfora,
gesto de quem se prepara para tirar água do poço.
Jesus Cristo, por seu lado, calça sandálias e veste túnica e palio, à
maneira dos romanos. O cabelo é curto, os olhos igualmente expressivos.
Faz o gesto de quem pede de beber ou afirma qualquer coisa.
poço abre-se entre as duas figuras, constituindo como que o centro da
conversa e da pintura. Mais parece um dólio, grande recipiente bojudo,
de terracota, onde se guardava o vinho ou o azeite.
Não deixa de ser interessante a presença de um rochedo, do lado direito
da pintura. Ele poderá evocar aquele de onde Moisés tirou a água para
matar a sede dos israelitas, no deserto, prefiguração das águas
salvadoras de Cristo.
Cristo é o Messias esperado, aquele que os profetas e os grandes
patriarcas prefiguravam. A existência, nesta catacumba, de várias outras
cenas do Antigo Testamento, todas de sentido cristológico, poderia
levar-nos a pensar que a pessoa, ou a família, ali sepultada fosse de
origem judaica, embora convertida ao cristianismo, e que o pintor
estivesse a chamar a atenção para o facto de Cristo vir concretizar as
promessas da antiga Lei.
Luís Silva Pereira, Professor de Iconografia (EAC’s – FacFil
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